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Pinhão também é alimento para animais silvestres — Foto: Rudimar Narciso Cipriani/Acervo Pessoal

Todo início do Inverno traz uma “figurinha carimbada” de festejos juninos: o pinhão. Das mais de 30 espécies da família das araucárias do mundo, três produzem o fruto e estão localizadas no Brasil, Chile e Austrália. Não só um símbolo cultural de uma estação, ele também carrega propriedades importantes à saúde.

Com origem nas dietas dos indígenas, o alimento é rico em calorias e gera ganhos energéticos em trabalhadores braçais, atletas e jovens em fase de crescimento. Também carregado de fibras, atua na prevenção de doenças intestinais e cardiovasculares, além de reduzir o colesterol e os triglicerídeos.

Na estrutura da árvore, as sementes ficam agrupadas nas pinhas que, quando maduras, podem pesar até dez quilos. "Os valores podem variar muito, mas uma árvore produz, em média, 80 pinhas por planta e estas podem gerar até 60 pinhões. O total é de 4.800 pinhões produzidos por uma única araucária", comenta o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Ivar Wendling.

A quantidade é suficiente para alimentar aves como gralhas, papagaios e até mamíferos como o serelepe, cutias e macacos. O fruto também é parte da dieta humana, que consome o pinhão assado ou cozido, em receitas como a paçoca de pinhão e entrevero, típicas da gastronomia catarinense.

Pinha é produzida pela árvore fêmea e pode pesar até 5 kg — Foto: Rudimar Narciso Cipriani/Acervo Pessoal

Mas trabalhar o pinhão através do processo de cozimento pode alterar algumas de suas propriedades nutricionais. Quando cru, por exemplo, ele apresenta o dobro de minerais do que quando cozido. Perdas de proteínas, lipídios e carboidratos também podem ocorrer com essa modificação.

Essas mudanças são consequência do aumento da umidade ocasionado pelo cozimento, que faz com que grande parte desses elementos seja incorporada na água. Assim, o fruto perde em quantidade de energia absorvida pelo corpo, o chamado valor calórico.

O pinhão é um alimento rico em calorias e pode trazer diversos benefícios à saúde — Foto: Rudimar Narciso Cipriani/Acervo Pessoal

Não julgue uma araucária pela copa

Numa população da araucária há árvores masculinas e femininas. A distinção entre os gêneros das plantas pode ser percebida visualmente. Os indivíduos machos não produzem pinha e, consequentemente, pinhão. O que eles geram é apenas um aglomerado de escamas, chamado estróbilos.

Já se acreditou poder saber o sexo de uma araucária pelo formato da copa e dos desenvolvimentos das folhas. Hoje, sabe-se que as diversas posições dos galhos nas árvores indicam a idade dela. Quando em formato de triângulo, as plantas estão em idade nova (entre 5 e 10 anos), com a copa se abrindo, em idade jovem (20 e 30 anos) e completamente “de braços abertos” são consideradas adultas (com mais de 60 anos).

Araucárias podem ser encontradas no Sul e Sudeste do Brasil — Foto: Arquivo TG

O melhor amigo da araucária

As araucárias nativas do território brasileiro estão ameaçadas de extinção e, apesar de a árvore poder viver até 300 anos, ela só consegue se reproduzir quando o pólen produzido pelas partes masculinas da planta encontra a parte feminina de outro espécime. Mas, ao plantar um indivíduo, não é possível saber se, no futuro, a árvore será macho ou fêmea.

Por isso, há a necessidade de um conjunto de casais vivendo próximos para que a reprodução seja efetiva. Nesse processo, ela depende muito da ação do vento e da dispersão realizada pelos animais.

Atualmente, dada a dificuldade da reprodução, pesquisadores como Wendling trabalham junto com produtores para realizar enxertos da árvore que produzam o pinhão em idade mais jovem do que ocorre na natureza. As árvores crescem menos, mas realizam um reparo natural. "O produtor colhe muito mais do que colheria na natureza, então, permite o desenvolvimento da árvore nativa e ajuda a protegê-la sem interferências", explica ele.

A iniciativa tenta evitar extinção que assombra a espécie: "Um dos grandes problemas para a árvore hoje é a própria legislação. Os produtores veem uma araucária pequena se desenvolvendo e realizam o corte quando jovem porque sabem as dificuldades legais que terão para passar esperando até que ela se desenvolva e gere os pinhões", conclui o pesquisador.

Vento e aves são parceiros importantes para a reprodução das espécies — Foto: Rudimar Narciso Cipriani

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